por Eduardo Cozer
Ela era bela de emocionar. Bela como o vôo de uma garça sobre a lagoa que reflete o pôr-do-sol, em lascas de ouro cintilante. Suave, porém decidida. Provocante na inocência de não saber como provocar.
Seu olhar vagava sem pressa, com o brilho da sabedoria de um milhão anos, até encontrar um ponto no qual resolvia se fixar. Congelava os movimentos e fazia o objeto da sua observação queimar por dentro de um misto de alegria com ansiedade.
Mas havia de ter algum segredo. Algo errado com ela...
E havia. Ela simplesmente não encontrava alguém belo à sua altura.
Sentia os olhos alheios deitarem-se sobre seu corpo a cada breve aceno que fazia. Quase podia ouvir os cochichos, como ruídos de ratos, que a acompanhavam por onde quer que ia. Suas narinas captavam o cheiro pútrido dos pecados que pairavam nas cabeças que flutuavam ao seu redor. Era como se por onde passasse deixasse um rastro de tudo que pode haver de ruim e mais mundano.
Ela era bela e superior àquilo tudo. E não podia conceber a idéia de descobrir o amor em meio a um bando de pessoas medíocres que nada tinham para acrescentar a sua vida.
Sua beleza extra-humana era sua condenação. A ponto de levá-la a decidir pôr fim a esta tragédia em forma dádiva. Pensou, pensou e decidiu que toda bela garça que sobrevoa uma lagoa a refletir o pôr-do-sol dourado se depara com o crepúsculo, onde não pode ser diferenciada dos demais seres, sejam belos ou feios.
Buscou o crepúsculo, de onde nunca mais retornou.
Buscou o crepúsculo, de onde nunca mais retornou.
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