domingo, 12 de dezembro de 2010

Boa ação do dia



por Eduardo Cozer

Gente boa. Um sujeito legal. Grande figura! São alguns dos adjetivos que você poderia escutar se estivesse falando sobre Jurandir Justo, o Seu Justo, com conhecidos, parentes e familiares do homem. Exemplo de pai de família, marido perfeito, modelo de ética no trabalho e como cidadão. Curioso para conhecê-lo? Pois bem. Vamos acompanhá-lo numa programação em família rumo à praia no domingo de manhã.

Seu Justo sai com seu carro da garagem em alta velocidade, pois as crianças endiabradas tinham dado trabalho à mãe para passar protetor solar, e, assim, os Justo estavam um pouco atrasados. O vizinho que é quase atropelado pelo veículo saindo voando pela rampa vai entender. Afinal, Seu Justo havia de ter um bom motivo. Ele também não baixa o vidro para cumprimentar o porteiro nesta manhã. Não é por mal, mas não ia com a cara daquele nordestino. Dizia que seu santo não batia com o dele. Nada mais justo.

Pior que a manhã conturbada está apenas começando. Nada consegue tirar Seu Justo tanto do sério como o trânsito a caminho da praia. Não suporta dar a passagem para nenhum daqueles domingueiros que resolvem tirar suas carroças de casa em dia de praia. A buzina do seu carro é acionada dezessete vezes. Para as crianças pararem de encher sua paciência, compra salgadinhos com os ambulantes no meio da rua. Como bom pai que é, pede o lixo para as crianças e o despeja pela janela. Não pode conceber a idéia do seu carro cheio de farelos que podem atrair baratas. É preciso dar o exemplo. Nada mais justo.

Chegando à praia, define o local na areia onde a família deve se estabelecer. Discute por três vezes com uma senhora mal humorada que não entende que seus filhos precisam de espaço para brincar, correr e chutar areia nos outros. Mulher estúpida, ela que se mude de lá. É o que acaba acontecendo...  Carrega a filha no colo, aos prantos pelo fim do dia de diversão. Precisa dar algumas boas palmadas nela para que as outras crianças aprendam que chorar é errado. Nada mais justo.

Ao tirar seu carro da vaga, ao invés de dar dois reais ao guardador, dá uma nota de cinco “pro da cervejinha”. Vai embora abençoado pelos agradecimentos do guardador que o chama carinhosamente de “chefe”. Seu Justo dá um sorriso para a esposa e se reconforta no assento do seu carro. Missão cumprida. Poderia dormir tranqüilo por outra noite mais. Havia feito a boa ação do dia.

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