quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Flores para Suzana



por Eduardo Cozer

Naquela manhã, Arlindo era a felicidade materializada em pessoa. Carregava um sorriso suave e abobalhado estampado nas faces e os pés não pareciam tocar o chão. O nó folgado em sua gravata e a parte posterior da perna esquerda da calça presa pela meia social contrastavam com a cautela com a qual o homenzarrão carregava o buquê de flores. Era nítido que Arlindo nadava a largas braçadas pelo oceano límpido do amor e apenas isso importava.

Deu uma passadinha à frente da casa dela antes de seguir para o batente. Ameaçou bater à porta, mas achou melhor apenas deixar as flores à soleira. Quando desceu os degraus da porta da casa da amada, parecia ainda mais anestesiado para a vida. Arlindo vivia um sonho rosado, brilhante, com um lindo rosto e belo corpo. Sentia que alguns homens que passavam o olhavam com o canto dos olhos, invejando-o pelo gosto pela vida que esbanjava. Naquela manhã, Arlindo se sentia amplamente superior a todos eles. Estava amando.

Suzana! Ah! Quanto mais pensava naquele nome, mais entorpecido ficava. Tinha algo nele... Talvez fosse um toque de aroma de dama da noite, talvez a sonoridade ou talvez por lembrá-lo da mulher amada. Só talvez... Enquanto isso, tatuava no seu córtex aquele nome, cada vez que o repetia para si mesmo. Era como se não precisasse de mais nada para viver. Respirar, se alimentar ou beber água? Para quê? Ele tinha Suzana para amar.

O dia de trabalho em seu calmo escritório foi interrompido uma série de vezes por culpa do seu próprio subconsciente, toda hora sabotando-o e dizendo: “Chega de trabalhar, homem! Vá ver Suzana!”. Às dezoito horas em ponto cedeu às suas vontades. Era sempre o último a sair e isso lhe dava ainda mais tranqüilidade de passar despedindo-se da secretária boquiaberta e colegas atônitos naquela tarde. Mal a porta bateu às suas costas, já havia um boato sobre seu estado de saúde e outro sobre sua saída do escritório. Tolos! Se pelo menos eles conhecessem Suzana, perceberiam as vidas medíocres que levam... 

No caminho de volta, obviamente, desviou do caminho mais curto para casa. Escolheu o caminho do seu coração. Sentia-se um jovem indo buscar sua companhia para o baile de formatura, caminhando apreensivo pela calçada e dando um último tapa no topete desajeitado. Foi então que a viu. Suzana! Ah, Suzana... A dor. De braços dados com um João Qualquer, às gargalhadas, ela descia a ladeira, despreocupada, voltando para casa. O casal feliz passou ao seu lado. O rapaz lhe deu um breve cumprimento com a cabeça. Arlindo os deixou passar, enfiou a cabeça entre os ombros e fez uma promessa a si mesmo. Tinha de ser a última vez. Nunca mais colocaria grandes expectativas nos seus amores platônicos.


Um comentário:

  1. Ola eduardo , sim meu blog é pra relatar a vida uma mulher pobre mais que é feliz mais tudo com muito humor espero que tenha gostado agradeço.

    ResponderExcluir

BlogBlogs.Com.Br