quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dia normal de ponte aérea no Brasil



por Eduardo Cozer

Passou pela porta envidraçada e adentrou num espaço amplo com ar refrigerado. Não conseguia mais entender o conceito de conforto sem a existência do ar condicionado. Suas passadas decididas e olhar injetado o faziam parecer um predador em estado de alerta máximo, exceto pelo fato de que estava de terno e gravata e carregava uma pasta preta cheia de papéis.

Reduziu consideravelmente a velocidade e posicionou-se atrás de outro senhor, trajado de maneira bastante parecida. Comemorou internamente o drible que conseguiu dar em uma família desorientada alguns metros atrás, fato que lhe fez ganhar duas posições na fila. Era meio estúpido, para falar a verdade, mas, se ele não fizesse desta forma, os outros fariam. De modo que era melhor comemorar esta pequena vitória do que amargar os últimos lugares.

Passaram-se 15 minutos até que fosse sua vez. Procurou demonstrar simpatia à atendente acreditando que isso poderia resguardá-lo de algum problema ou imprevisto. Doce destino... Descobriu que seu vôo estava atrasado e não havia nada que se podia fazer. Questionava-se sobre a utilidade daquela pessoa que lhe atendia se, sempre que surgia um problema – e já havia vivenciado muitos – nunca era possível fazer nada a respeito. Achou melhor não externar sua opinião e dirigiu-se ao segundo andar do aeroporto Santos Dumont.

Bufou, impotente, diante de mais uma fila. O ser humano adora filas! Levou mais 10 minutos até passar por um aparato que detectava se ele era ou não uma ameaça letal aos demais passageiros. Passou sem problemas, xingando internamente os passageiros de primeira viagem que viam naquele procedimento um verdadeiro entretenimento. E esquecendo que agira exatamente da mesma forma na sua estréia em aeroportos. Tolos, idiotas, pensou.

Daí para frente, mais espera. Sentou, leu uma revista, descobriu o novo portão do seu vôo atrasado, percebeu que ele estava mais atrasado do que a previsão de atraso que havia recebido, reclamou mais algumas vezes com os funcionários mocos da sua companhia aérea que nada faziam, entrou numa fila apinhada de gente 30 minutos antes de embarcar, olhou seu relógio quando já haviam se passado 45 minutos e, enfim, conseguiu entrar depois de um empurra-empurra de classe para ver quem entra primeiro num lugar onde os assentos já estão marcados. Não gostava de Zé Ramalho, mas pensou consigo “Ê, ô, vida de gado...”.

Dia normal de ponte aérea no Brasil.

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