Os pés calçados em sapatos de couro faziam um barulhinho gostoso ao mover as pequenas pedrinhas do solo. Por isso mesmo, o doutor Reinaldo não fazia um movimento natural de quem caminhava, enfiando os pés mais ao fundo para gerar mais daquele som agradável aos ouvidos. Sentia-se com o espírito elevado.
O motivo para essa sensação sublime não se devia apenas ao contato das solas gastas de sapato com o cascalho. O ar cheirava a verde e tinha um frescor especial que preenchia os pulmões e o fazia querer levitar. Reinaldo sentia sua vista mais aguçada, tamanha a variedade de cores e texturas que podia enxergar numa rápida passada de olhos pela paisagem que o cercava. Era como se suas pupilas estivessem sendo massageadas pelas belezas naturais.
Chegou à base de um morro de subida leve. No topo encontravam-se outros três homens. Sua felicidade estava completa! Caminhou até eles, determinado, e sentindo-se cada vez mais bem disposto conforme o ar puro ia circulando pelo seu organismo. Reinaldo chegou, um pouco ofegante devido à atividade física – naturalmente – e estendeu a mão direita ao homem mais próximo.
Cumprimentou os outros dois homens e todos eles trocaram algumas palavras e muitos sorrisos. Dali de cima tinham uma vista privilegiada da área mais ao norte e todos apontaram lá para baixo, demonstrando bastante conhecimento. Um deles puxou um mapa e traçou algumas linhas de tinta com sua caneta metálica. Estava tudo certo, então. Reinaldo sacou um rádio do bolso do seu colete e decretou:
- Pode prosseguir com a operação, câmbio.
Foi o último dia em que alguém desfrutou do puro som do cascalho sob os pés, do frescor do ar natural e das belas formas assimétricas caprichosamente geradas pela Mãe Natureza. Graças ao doutor Reinaldo. E à sua madeireira que trouxe empregos para a região, preços mais baratos dos derivados da madeira e que foi amplamente aceita pelo governo e população. Afinal, tudo tem um preço.
Tudo tem um preço?
Realmente reflexivo e pergunta bastante inquietante . Será que há resposta pronta e simples? Muito bom!
ResponderExcluirBete
Concordo, Bete!
ResponderExcluirCom este texto não procuro questionar o sistema capitalista - como pode parecer - mas apenas abrir os olhos das pessoas para aquilo que, diariamente, aprovamos com pequenos gestos (ao comprar um produto x, você pode estar optando por um conforto episódico em detrimento do ar puro, por exemplo).
Todos somos responsáveis por isso!