quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Colo de pai



por Eduardo Cozer

Acorda cedo, engole o pão com café-com-leite.

- Vai logo tomar esse banho porque já estamos atrasados! – grita a mãe lá da cozinha.

Que aventura! – ela pensa enquanto faz espuma com o sabonete contra a barriga. Sai correndo do banheiro, toalha na cabeça, os pés deixando pegadas d’água pelo corredor. Bota a roupa sem pensar, a cabecinha cheia de empolgação com o que está por vir. Tinha sido difícil dormir na noite anterior, tamanha a excitação.

- Confere a sua mochila pra ver se não esqueceu nada! – alerta o pai, mente brilhante idealizadora desta missão.

Vai até a mesa da cozinha e cata um lanchinho pra viagem de volta. Parece mais um dia corrido de semana mas hoje é sábado, dia de brincar no parque. O pai pilota com alta perícia, cortando todos aqueles "domingueiros", e estaciona de primeira. O irmão sai correndo tresloucadamente assustando as outras famílias. Bicho solto, bichinho feliz. Ela corre atrás, às gargalhadas, entrando no clima.

Joga bola com o pai e o irmão até ralar os joelhos e ir correndo chorando, assustada, para a mãe passar anti-séptico e fazer um curativo. Brinca com as bonecas que estavam aprisionadas em sua mochila. Ajuda a mãe a montar o piquenique. Como boa mocinha que já é, vai até o pai e o irmão e convoca-os para o almoço. Corre mais, joga mais, brinca mais. A sensação, ao finalzinho de tarde, é que ela tem camadas e mais camadas de suor seco sobre seu corpo. Uma sujeira natural de quem aproveitou ao máximo o dia de sábado.

Tá acabando o dia e todos começam a levantar o acampamento. Deita-se no chão e se finge de morta.

- Ih... A Belinha dormiu – determina o pai, com um risinho irônico no rosto. O riso de alguém que é ludibriado toda semana mas não se importa. No fundo, no fundo, ele também gosta.

O pai pega ela no colo para levá-la até o carro. Ah, adorava curtir estes poucos segundos de colo do papai. O cansaço que se abatia sobre o seu corpo – especialmente seus pés – combinado à sensação de levitação era tudo que mais gostava nos dias de brincadeira no parque. 

Valeu à pena. Sábado que vem tem mais.

2 comentários:

  1. Eduardo.
    Esse texto fluiu fácil e prazero. Remeteu-me as sensações e vivências de criança. Ah! Esse "soninho maroto" que sempre permite pais e filhos se aconchegarem nesse faz de conta "rotineiro" tão prazeroso e rico.
    Continue...
    Bom texto é aquele que leem e organizam sentimentos e pensamentos do leitor.

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  2. Obrigado, Bete!
    O objetivo é esse! Continue visitando a Usina de Contos e participando com críticas e comentários.

    Bjo, Edu

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