domingo, 14 de novembro de 2010

Viagem de um nobre inglês



por Eduardo Cozer


A viagem já durava três dias e Christoph não via nada que pudesse animá-lo ao horizonte. Para todos os lados que olhava só havia verde e mais verde. E se o fato de dormir poucas horas nas últimas noites para tentar acelerar os avanços da viagem já o incomodava, a chuva grossa também não fazia menção de parar. Perder a referência do ponto brilhante de luz no céu apenas o deixava mais frustrado. Sem contar que as nuvens negras sobre a sua cabeça sempre o deixavam mais inseguro. Seu povo acreditava em presságios.

Além disso, os pingos tamborilando no seu cocuruto já começavam a deixá-lo extremamente irritado e impaciente com todos ao seu redor. A água das chuvas é como um visitante indesejado que vai entrando pela casa indiscriminadamente. E Christoph volta e meia sofria com alguns tremeliques devido a gotas d’água que entravam pelas frestas da sua armadura e rolavam caprichosamente sobre os pequenos pelos ao longo das suas costas, fazendo cócegas. Pelo que ouvira dos companheiros de viagem, eles já deveriam ter chegado ao seu destino. Inferno!

Direcionou um olhar sombrio para o líder da expedição, Sir George Lockeheart, um almofadinha que pensava merecer o tratamento de nobre que recebia, mas que não parecia ter a menor competência para planejar uma viagem curta de míseros três dias. Odiava fazer parte da sua guarda pessoal, pois Sir George só fazia viagens esporádicas para visitar outros nobres ou membros do clero. Nada de guerras! O pior de tudo é que a chuva só fazia piorar e a estrada que seguiam, um trecho de terra em meio à imensidão de capim, já era um lamaçal difícil para suas montarias transitarem sem correrem riscos de quebrar as patas. Desta forma, Sir George achou melhor armar sua tenda e deixar seus homens à sorte da proteção da copa de uma grande faia à beira da Floresta de Wyre.

Assim, Christoph decidiu fazer um reconhecimento do perímetro onde Sir George havia decidido acampar. Destacou mais um homem para acompanhá-lo a leste e dirigiu outros dois a oeste, deixando mais cinco próximos à tenda do nobre líder da expedição. A noite caiu silenciosa e após uma tempestade raivosa, a madrugada trouxe um tom rosa-azulado ao céu do novo dia. Sir George acordou com uma estranha pontada no peito. Uma espécie de onisciência do que estava acontecendo mesmo durante o período em que estava dormindo. Deu uma rápida coçada nos olhos cheios de remela amarelada e foi logo esticando o pescoço comprido para o ar das primeiras horas da manhã. E foi então que testemunhou uma cena de horror inesperada.

Reconheceu alguns de seus homens pendurados despidos nos troncos robustos da nogueira, dentre eles Christoph. Outros dois tinham seus corpos decapitados e empalados em lanças. Tinha diante de si um grupo de aproximadamente vinte bárbaros que sorriam mostrando dentres podres e rostos imundos. E os malditos haviam tirado a sorte grande. Conseguiram um refém de sangue azul e, se tudo desse certo, teriam prata para o próximo ano inteiro. Fartura de comida, cerveja e mulheres! Sir George bufou, ajoelhou-se na lama e chorou como uma garotinha. Sua viagem chegara ao fim.

2 comentários:

  1. Olá, Eduardo!
    Parabéns, muito bom o seu blog!
    Abçs!
    Rike.

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  2. Obrigado pelos cumprimentos, Rike!
    Continue participando da Usina de Contos. Fique à vontade para sugerir temas e criticar o conteúdo!

    Abraços,

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