domingo, 28 de novembro de 2010

Tudo tem um preço?



por Eduardo Cozer

Os pés calçados em sapatos de couro faziam um barulhinho gostoso ao mover as pequenas pedrinhas do solo. Por isso mesmo, o doutor Reinaldo não fazia um movimento natural de quem caminhava, enfiando os pés mais ao fundo para gerar mais daquele som agradável aos ouvidos. Sentia-se com o espírito elevado.

O motivo para essa sensação sublime não se devia apenas ao contato das solas gastas de sapato com o cascalho. O ar cheirava a verde e tinha um frescor especial que preenchia os pulmões e o fazia querer levitar. Reinaldo sentia sua vista mais aguçada, tamanha a variedade de cores e texturas que podia enxergar numa rápida passada de olhos pela paisagem que o cercava. Era como se suas pupilas estivessem sendo massageadas pelas belezas naturais.

Chegou à base de um morro de subida leve. No topo encontravam-se outros três homens. Sua felicidade estava completa! Caminhou até eles, determinado, e sentindo-se cada vez mais bem disposto conforme o ar puro ia circulando pelo seu organismo. Reinaldo chegou, um pouco ofegante devido à atividade física – naturalmente – e estendeu a mão direita ao homem mais próximo.

Cumprimentou os outros dois homens e todos eles trocaram algumas palavras e muitos sorrisos. Dali de cima tinham uma vista privilegiada da área mais ao norte e todos apontaram lá para baixo, demonstrando bastante conhecimento. Um deles puxou um mapa e traçou algumas linhas de tinta com sua caneta metálica. Estava tudo certo, então. Reinaldo sacou um rádio do bolso do seu colete e decretou:

- Pode prosseguir com a operação, câmbio.

Foi o último dia em que alguém desfrutou do puro som do cascalho sob os pés, do frescor do ar natural e das belas formas assimétricas caprichosamente geradas pela Mãe Natureza. Graças ao doutor Reinaldo. E à sua madeireira que trouxe empregos para a região, preços mais baratos dos derivados da madeira e que foi amplamente aceita pelo governo e população. Afinal, tudo tem um preço.

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Colo de pai



por Eduardo Cozer

Acorda cedo, engole o pão com café-com-leite.

- Vai logo tomar esse banho porque já estamos atrasados! – grita a mãe lá da cozinha.

Que aventura! – ela pensa enquanto faz espuma com o sabonete contra a barriga. Sai correndo do banheiro, toalha na cabeça, os pés deixando pegadas d’água pelo corredor. Bota a roupa sem pensar, a cabecinha cheia de empolgação com o que está por vir. Tinha sido difícil dormir na noite anterior, tamanha a excitação.

- Confere a sua mochila pra ver se não esqueceu nada! – alerta o pai, mente brilhante idealizadora desta missão.

Vai até a mesa da cozinha e cata um lanchinho pra viagem de volta. Parece mais um dia corrido de semana mas hoje é sábado, dia de brincar no parque. O pai pilota com alta perícia, cortando todos aqueles "domingueiros", e estaciona de primeira. O irmão sai correndo tresloucadamente assustando as outras famílias. Bicho solto, bichinho feliz. Ela corre atrás, às gargalhadas, entrando no clima.

Joga bola com o pai e o irmão até ralar os joelhos e ir correndo chorando, assustada, para a mãe passar anti-séptico e fazer um curativo. Brinca com as bonecas que estavam aprisionadas em sua mochila. Ajuda a mãe a montar o piquenique. Como boa mocinha que já é, vai até o pai e o irmão e convoca-os para o almoço. Corre mais, joga mais, brinca mais. A sensação, ao finalzinho de tarde, é que ela tem camadas e mais camadas de suor seco sobre seu corpo. Uma sujeira natural de quem aproveitou ao máximo o dia de sábado.

Tá acabando o dia e todos começam a levantar o acampamento. Deita-se no chão e se finge de morta.

- Ih... A Belinha dormiu – determina o pai, com um risinho irônico no rosto. O riso de alguém que é ludibriado toda semana mas não se importa. No fundo, no fundo, ele também gosta.

O pai pega ela no colo para levá-la até o carro. Ah, adorava curtir estes poucos segundos de colo do papai. O cansaço que se abatia sobre o seu corpo – especialmente seus pés – combinado à sensação de levitação era tudo que mais gostava nos dias de brincadeira no parque. 

Valeu à pena. Sábado que vem tem mais.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nota Extraordinária

Após uma semana intensa de dedicação a projetos pessoais de Eduardo Cozer, a Usina de Contos retoma sua agenda normalmente.

Boa leitura a todos!

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domingo, 14 de novembro de 2010

Viagem de um nobre inglês



por Eduardo Cozer


A viagem já durava três dias e Christoph não via nada que pudesse animá-lo ao horizonte. Para todos os lados que olhava só havia verde e mais verde. E se o fato de dormir poucas horas nas últimas noites para tentar acelerar os avanços da viagem já o incomodava, a chuva grossa também não fazia menção de parar. Perder a referência do ponto brilhante de luz no céu apenas o deixava mais frustrado. Sem contar que as nuvens negras sobre a sua cabeça sempre o deixavam mais inseguro. Seu povo acreditava em presságios.

Além disso, os pingos tamborilando no seu cocuruto já começavam a deixá-lo extremamente irritado e impaciente com todos ao seu redor. A água das chuvas é como um visitante indesejado que vai entrando pela casa indiscriminadamente. E Christoph volta e meia sofria com alguns tremeliques devido a gotas d’água que entravam pelas frestas da sua armadura e rolavam caprichosamente sobre os pequenos pelos ao longo das suas costas, fazendo cócegas. Pelo que ouvira dos companheiros de viagem, eles já deveriam ter chegado ao seu destino. Inferno!

Direcionou um olhar sombrio para o líder da expedição, Sir George Lockeheart, um almofadinha que pensava merecer o tratamento de nobre que recebia, mas que não parecia ter a menor competência para planejar uma viagem curta de míseros três dias. Odiava fazer parte da sua guarda pessoal, pois Sir George só fazia viagens esporádicas para visitar outros nobres ou membros do clero. Nada de guerras! O pior de tudo é que a chuva só fazia piorar e a estrada que seguiam, um trecho de terra em meio à imensidão de capim, já era um lamaçal difícil para suas montarias transitarem sem correrem riscos de quebrar as patas. Desta forma, Sir George achou melhor armar sua tenda e deixar seus homens à sorte da proteção da copa de uma grande faia à beira da Floresta de Wyre.

Assim, Christoph decidiu fazer um reconhecimento do perímetro onde Sir George havia decidido acampar. Destacou mais um homem para acompanhá-lo a leste e dirigiu outros dois a oeste, deixando mais cinco próximos à tenda do nobre líder da expedição. A noite caiu silenciosa e após uma tempestade raivosa, a madrugada trouxe um tom rosa-azulado ao céu do novo dia. Sir George acordou com uma estranha pontada no peito. Uma espécie de onisciência do que estava acontecendo mesmo durante o período em que estava dormindo. Deu uma rápida coçada nos olhos cheios de remela amarelada e foi logo esticando o pescoço comprido para o ar das primeiras horas da manhã. E foi então que testemunhou uma cena de horror inesperada.

Reconheceu alguns de seus homens pendurados despidos nos troncos robustos da nogueira, dentre eles Christoph. Outros dois tinham seus corpos decapitados e empalados em lanças. Tinha diante de si um grupo de aproximadamente vinte bárbaros que sorriam mostrando dentres podres e rostos imundos. E os malditos haviam tirado a sorte grande. Conseguiram um refém de sangue azul e, se tudo desse certo, teriam prata para o próximo ano inteiro. Fartura de comida, cerveja e mulheres! Sir George bufou, ajoelhou-se na lama e chorou como uma garotinha. Sua viagem chegara ao fim.

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Baboseiras sem sentido e a felicidade


por Eduardo Cozer

Sete e catorze da manhã. Arnaldo achava engraçado como o relógio mostrava sempre a mesma hora ao espichar a vista subitamente para a parede da cozinha, logo antes de engolir um copo d’água gelado e sair às pressas para o trabalho. Sempre sete e catorze!

Seu dia começava assim: acordava, às vezes se demorava mais na cama, às vezes não, às vezes tinha café pronto, às vezes ele mesmo tinha de fazer, tomava banho pensando no que deveria fazer ao longo do dia, vestia-se, penteava os ralos cabelos que lhe sobravam, despedia-se da mulher, e, o relógio, debochadamente, sempre marcando as tais sete horas e catorze minutos antes de Arnaldo engolir a bendita água. Era como se tivesse feito um pacto com o diabo para sair de casa todo dia à mesma hora e não se lembrasse mais.

Quando botava o pé direito na calçada do seu prédio na Nossa Senhora de Copacabana o pensamento já estava longe. Para ser mais preciso, estava na pilha de papéis em seu escritório de advocacia localizado na movimentada Avenida Rio Branco, no Centro do Rio. Tanto é que nos 28 anos em que morava no mesmo local, nunca havia reparado no sujeitinho que ficava ali perto, uma rua abaixo, na Avenida Atlântica, distribuindo quadros a quem lhe dava a atenção. Foi aí que Arnaldo o viu, reparou e então ouviu:

- Senhor, tome a sua arte e tenha um ótimo dia! – cumprimentou o homem, estendendo o braço esquálido que segurava um quadro com uma moldura de madeira barata.

Arnaldo rejeitou a oferta sem dar muita atenção dizendo apenas:

- Não, não, meu amigo. Tô sem dinheiro! – ainda preocupando-se em justificar a recusa pelo menos. A entonação do “amigo” sugerindo exatamente o contrário. Seu humor era ácido pela manhã.

- Mas quem foi que disse que eu estou cobrando? É de graça! É pra você, meu querido! – falou o artista de rua, sorrindo de orelha à orelha – Pode pegar! – reforçou.

Sinuca de bico. Arnaldo sempre tivera esse roteiro pronto na sua cabeça. O cara humilde chegava, tentava empurrar o produto de qualidade questionável por um preço de deixar maluco qualquer varejista honesto no mercado e ele recusava. Os papéis eram bem claros. Mas aí vem esse sujeito e diz que é de graça? Não pôde se conter. Girou o tronco e desembestou a falar:

- ‘De graça’ você disse? Então posso pegar esse quadro e ir embora sem que você ganhe nada por isso? É isso mesmo, amigo? – indagou com um ar irônico, como se sua pergunta pudesse colocar juízo naquela pobre cabeça desprovida de intelectualidade. Pela primeira vez pousou seus olhos no quadro. E viu que era bom!

- Sua felicidade é o meu pagamento! – respondeu com uma sinceridade digna de um político. Não um político qualquer, mas daqueles que tentavam as eleições presidenciais.

- Ó – avisou Arnaldo – Vou levar então, hein? – agora já estava rindo de toda a situação. De repente percebeu como aquela figura magricela, no fim das contas, era carismática. Sua serenidade passava tamanha tranqüilidade que Arnaldo já havia se esquecido do horário do trabalho.

- Me deixaria muito feliz se o levar! E, se quiser voltar amanhã, terei uma obra nova para você – prometeu.

Ao que Arnaldo não pode mais sustentar a alegria fingida e explodiu em indignação:

- Pelo amor de Deus, homem! O que está acontecendo?! Você acha que vai ganhar algum dinheiro desse jeito?! Como vai melhorar de vida? Você não pode sair distribuindo estes quadros por aí assim, ora bolas! – Arnaldo já estava com os fiapos de cabelo desarrumados e com veias saltadas nas têmporas suadas sob o sol matinal da orla carioca.

E o homem sem nome simplesmente retrucou:

- Agradeço sua preocupação, nobre homem. Mas se o que te faz feliz é ganhar dinheiro, corra atrás do dinheiro. Entretanto, não force outras pessoas a seguir o mesmo caminho que você. O que me faz feliz é fazer outras pessoas felizes e, até o momento, creio que estou no caminho certo. O resto é o resto – o pobre maltrapilho pareceu até ganhar uma aura reluzente após proferir ensinamentos tão cheios de significado.

Diante dessa resposta, Arnaldo fechou a matraca, colocou o quadro debaixo do braço e, ainda confuso e atrasado, retomou o caminho do trabalho. Ficou pensando no que o sábio homenzinho disse em vários momentos daquele dia. Será que tinha razão? Arnaldo até pensou se era aquela pilha de processos que o faziam de fato feliz.

- Rá! Que baboseira sem sentido! – pegou-se caçoando do vagabundo da rua que achava ter encontrado a fórmula da felicidade.

No dia seguinte, o artista de rua aguardou aquele senhor questionador aparecer novamente para pegar mais um quadro, ou melhor, mais uma pitada de felicidade. Mas Arnaldo não apareceu. Havia descoberto o que lhe fazia feliz. Retomou seus ensaios ao piano. Nunca mais se enterrou na pilha de processos do seu escritório apertado no Centro do Rio. E descobriu que o relógio da parede da cozinha mostrava outros horários além das sete e catorze. Meses depois, sua primeira composição nasceu de uma inspiração vinda de um certo quadro com uma moldura barata pendurado na parede da sala. A obra do homem que distribuía arte estava completa.

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domingo, 7 de novembro de 2010

Patologia ou obra do sobrenatural?



por Eduardo Cozer


O jovem doutor era uma sumidade em matéria de dermatologia e nem nos seus sonhos mais fantasiosos poderia imaginar que chegaria numa situação como esta. Acordou pela terceira vez na última hora, sentando-se na cama, a testa encharcada de suor. E o rádio-relógio na sua cabeceira gritava em letreiro verde neón: quinze para as quatro. A hora pairava fantasmagórica na escuridão sepulcral do quarto. Não conseguia esquecer o que tinha visto em seu consultório no dia anterior. E agora não sabia como poderia voltar ao trabalho logo mais, dentro de aproximadamente três horas. Estava aterrorizado, em pânico.

Era algo psicológico, tinha certeza. Uma mera questão de tentar ser mais racional e tentar organizar os pensamentos. O problema é que desde quando removeu seu jaleco após a consulta das dezenove horas daquela fatídica terça-feira, mal conseguiu debruçar seus olhos sobre qualquer outra pessoa. Estava com medo de sofrer o mesmo impacto que o havia traumatizado. Talvez a força que fez para não transparecer a repulsa que sentia enquanto estava na presença do paciente tenha agravado o efeito retardado da ojeriza que agora tinha por qualquer ser humano. Em menos de 24 horas havia desenvolvido um alto grau de aversão à figura humana. E assim, optou por se ausentar do trabalho.

Curioso, foi o que muitos disseram assim que souberam do problema. O doutor se tornara assunto freqüente nas rodinhas de parentes, amigos e colegas de trabalho mais próximos. A sua reclusão há meses já começava a preocupar seriamente muitos deles. Ele não saía de casa para nada e não tinha contato algum com ninguém. Comentava-se que trocara sua televisão pelo rádio apenas para evitar de ficar olhando mais rostos.  E para falar com ele, apenas via telefone.

Mas a verdade é que nem mesmo essas ferramentas de comunicação ele utilizava, pois, de uma forma ou de outra, o faziam se lembrar de olhos, bocas, narizes e, conseqüentemente, daquilo que havia visto. Era uma espiral louca que lhe lançava numa paranóia onde, qualquer coisa ao seu redor perdia sua característica e ganhava um rosto. Pensava que, por trás de todos aqueles livros, móveis e aparelhos havia uma criatura humana e isso lhe embrulhava o estômago. Tudo era gente olhando para ele. Tudo era nojento. E assim, os meses viraram estações inteiras, anos, uma década. O jovem e promissor doutor agora era um pobre doente paranóico.

Nunca aceitou as visitas de médicos e da última vez que foi visto na sua vizinhança, estava partindo desvairadamente em seu carro com tudo que podia carregar dentro e nunca mais voltou. Há boatos de que atualmente ele vive em alguma chácara distante de tudo e de todos ao sul. Quanto ao seu cliente das dezenove horas da fatídica terça-feira, o que foi possível averigüar é que nada constava na agenda do doutor e suas secretárias desconhecem a realização desta consulta. Tudo que elas sabem é que o doutor passara a última meia hora de trabalho sozinho, apenas ele e os botões do seu jaleco. Ou não.

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Coação na horta



por Eduardo Cozer

Ah! A empolgação do vento batendo em ondas invisíveis! Os pulmões sendo exigidos ao máximo da capacidade. O cheiro do verde das plantas e flores, o aroma de terra fresca espremida sob as patas peludas. O sangue quente fazendo o corpo formigar. No entanto, a diversão desfrutada pelo jorro de adrenalina na corrente sanguínea não é maior do que o instinto de sobrevivência oriundo do jogo de perseguição. E lá se vai, por mais uma manhã, a lebre marrom atravessando o gramado para chegar à horta, rica em cenouras, nabos, rabanetes e batatas.
Entretanto, há também outra entusiasta das corridas matinais: a raposa-vermelha. Olfato aguçado, para não embaralhar o odor peculiar da lebre assustada com a infinidade de fragrâncias que podia captar, visão projetada no ponto mais distante em busca da presa e audição sensível a qualquer triscar de patas nas folhas sobre o solo. A raposa vinha dando incertas contra a lebre há sete dias agora e já estava ficando incomodada com isso. Hoje pegaria aquela danada.
E pegou. Quando a interceptou já foi logo falando:
- Alto lá, lebre matreira! Quem você pensa que é para sair pegando estas belas hortaliças sem me consultar? – resmungou a raposa felpuda, cheia de pose.
- Ora essa! Era só o que me faltava. Uma raposa melindrada! – fungou a lebre, passando a pata traseira sobre as longas orelhas – Por que deveria consultá-la? – provocou.
- Pelo simples motivo de que esta horta faz parte do meu território e por aqui, minha amiga, nós temos regras – gabou-se a raposa, fazendo uma mesura exagerada para enfatizar o que dizia.
- Nós? Regras? Estou confusa... – admitiu a pobre lebre faminta.
- Logo, logo você aprende... – tranquilizou a criatura de dentes afiados – Se você prestar mais atenção ao seu redor verá que tudo aqui tem um motivo. Cada animal desta região caça, colhe ou produz alguma coisa. Eu garanto que ninguém passe o inverno desabastecido em troca de algo de valor. Assim, eu e você precisamos chegar a um acordo... – sugeriu cheia de malícia – O que você tem para me oferecer?
- Olha, raposa, digo, Dona Raposa, sou uma lebre de vida simples. Não tenho nada a oferecer que possa lhe interessar – atestou ingenuamente a lebre.
Mas a raposa tinha um ponto em mente. E já estava em vias de chegar ao que queria:
- Você faz muito pouco de si mesma, cara lebre. Pois eu bem sei que você teve uma farta ninhada há pouco e um dos pequeninos anda desenganado, vai de mal a pior. Deixe ele a meus cuidados e estamos acertadas – piscou a raposa, dando seu golpe final.
Ao que a lebre, entrando no jogo do vil canídeo, respondeu:
- Isso eu não posso fazer. Mas, se me permite sugerir, conheço uma família de esquilos bastante irritante. Eles vivem próximos à minha toca e têm um filhote que se encaixa no perfil que você procura. Ele lhe sairá melhor do que a encomenda! – solucionou o caso.
- Hum! Você pegou rápido o negócio. Então estamos acertadas e ...
Mas a raposa nem conseguiu terminar de falar. Fora surpreendida por uma matilha de beagles que cercava o perímetro a mando da lebre astuta e precavida. Os cães destroçaram a raposa e a lebre foi colher suas hortaliças sem dar mais nenhuma atenção à sua interlocutora. Porque morria de fome. E porque acidentes apenas acontecem com aqueles que deixam que lhes aconteça.
Esta já era a quinta horta que a lebre dominava para sua família, que não parava de se multiplicar. Pensou consigo mesma se algum dia seria tratada com mais respeito pelos mamíferos maiores. Por ora, apreciou seu rabanete, relembrando com crueldade do fato ocorrido minutos atrás.

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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

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